terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

História do Bené e do Borges na biblioteca Estrela




Por Raphael Carmezim

Pelas ruas da Estrela
Conheci um velho castanho
Que entre pencas de livros
Tinha o brilho dos d’antanho
Era o velho desejado
Dos saberes, sacrossanto.


Sua casa era um Aleph
Do Borges afeiçoado
Da Babel era errante
Nos Moldes dos desgraçados
Era a Sabedoria
Que lhe andava no encalço


A sua Biblioteca?
Thomas Mann mais sanatório
Era a “Montanha-Mágica”
Universo-palavrório
Esse era o Benedito
Com seus ares de filósofo


Sentado em sua poltrona
Balouçava com o amigo
Era Borges do outro lado
Parolando sobre mitos
De universos paralelos
Espelhos de tempos idos.


Labirinto dos achados
Era Hora da Estrela
Misturados, englobados
Estava Sertão Veredas
Era a obra Roseana
A Clarice eira nem beira


Um cego que ensaia o conto
Que recita os ingleses
Um velho que escreve a vida
Críticas que fazem às vezes
Da Estética nortista
À Cosmogonia dos seres


Eu ouvi os dois falarem
Línguas nunca dantes vistas
Será que era a Orbe?
Cunhada pelo artista:
“Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”
Lá, nasceu e ganhou vida.


Atmosfera sinistra
Explodiu-se num rosário
Estante-eternidade
De círculo sacrário
Eles acharam o seu duplo
No infinito breviário


Entre sonhos memoráveis
De segredos inauditos
Fulgurava a besta-fera
Que abismava aos amigos
Um montava em seu dorso
Outro o honrava como Cristo


Era o Tigre imponente
De sonho rememorado
Por filósofo ensaísta
Por crítico-literário
Bené e Borges passadiços
Nos saberes mais velados.


Juntos por fim se ingeraram
Em saber o enciclopédico
Do ovo do basilisco
Á “Passagem para o poético”
Do eterno “livro de areia”
Ao fraseado da Lispector


Esses são Bené e Borges
Na Biblioteca Estrela
No universo incandescente
No céu que nos incendeia
História mais erudita
De uma prosa tão perfeita


Ao tempo em que fui cantando
Me dei por mais outro livro
Mais um da Biblioteca
Por Bené e Borges lido
Quando fui ver o que era
Era eu cantando o mito


Depois eles penduraram
Tudo na grande Babel
Eu olhei tão pequenino
Eles me olharam do céu
Me apontaram, os dois sorrindo,
A Poesia de Cordel.

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