sexta-feira, 21 de maio de 2010

Anna Karenina Revisited.


Por Filipe Oliveira.

Leon Nikolaievitch Tolstói foi um homem maior que a vida. Suas façanhas são tantas, que tentar falar de todas em um espaço de tempo tão curto é uma tarefa difícil. Tolstói nasceu em Iasnaia Poliana, cidade a 160 km ao sul de Moscou no ano de 1828 em uma família muito rica. Seus pais morreram quando ele era criança, e por conta disso teve que viver com sua tia. Durante sua infância e adolescência, teve uma educação privilegiada e foi com seu professor particular alemão chamado Ressel que ele adquiriu o gosto pela leitura.
Tolstói entrou para a universidade, mas não chegou a se destacar como aluno, então acabou abandonando o curso de direito e se alistando nas forças armadas, chegando inclusive a lutar na Guerra da Criméia (1853-1856). Quando voltou da guerra passou a publicar histórias sobre a guerra, sua infância e a sociedade russa, sendo aclamado pelo público e pela crítica.
Anna Karenina é o seu romance mais famoso. Ele conta a história do relacionamento entre Anna Karenina, uma mulher casada com um influente homem de São Petesburgo, Alieksei Alieksandrovic, com Alieksei Vronski, um importante militar. Ao longo da história podemos conhecer os costumes da sociedade russa através do cotidiano de inúmeros personagens como Liêvin Ivanovitch, Stiepan Arcadievitch, Katierina Tchierbatskaia, Sviájski, dentre outros. O autor consegue traçar um perfil psicológico profundo dos personagens e utiliza isso para criticar muitos dos costumes da época.
De todos os personagens retratados no livro, Anna Karenina, sem sombra de dúvida, é a personagem mais intrigante. Sua bela aparência física aliada ao seu charme singular e o seu posicionamento moral perante a sociedade petersburgesa passam paulatinamente a dar lugar a uma mulher excessivamente ciumenta e insegura, vivenciando um terrível estado mental de ódio, miséria e desprezo, vendo repulsa em todos e tudo que a cerca.
Assim, diante do desespero que se encontrava e da sua falsa certeza do desprezo que o seu amante lhe tinha, Anna não viu outra solução que não o suicídio. Ela então desce até a linha dos trens, sendo atropelada poucos segundos depois.
Este suicídio, ao meu ver o ponto alto da obra, mereceu algumas análises sociais e psicológicas, das quais merecem destaque a tese de conclusão de curso de alunos de psicologia da Faculdade Ruy Barbosa, utilizando como pressuposto teórico as obras de Fernanda Bruno, Michael Foucault, Serge Moscovici, David Myerrese, dentre outros.
Segundo o estudo, Anna Karenina sofreu uma forte coerção da sociedade a partir do momento em que deixa de observar os padrões de comportamento estabelecidos para se lançar em uma aventura extraconjugal. Deste modo, a estrutura social e seu mecanismo de manutenção da subjetividade individual são alterados.
Nesse sentido, a análise de Foucault baseado no modelo do Panóptico se faz importante para o entendimento da situação de Anna Karenina. Segundo Bruno (2004) o Panóptico é:
“A arquitetura circular, as celas individuais dispostas em anel e a torre central atendem ao princípio de dissociação do par ver-ser visto (...) Da torre central, onde deve se instalar a vigilância, a transparência é total – todas as celas, todos os indivíduos nelas alojados são perfeitamente visíveis; o olho central tudo vê. Das celas, ou nada se vê ou se é furtado da decisão sobre o que se vê (....)”
A partir do momento em que interpretamos o Panóptico como a sociedade, com o seu olhar perscrutador sobre o indivíduo, percebemos a força de sua alteridade no que tange a internalização das normas propagadas e na formação da identidade de cada indivíduo.
Quando Anna deixa de seguir o que foi socialmente e privativamente (por meio da auto-vigilância do comportamento) convencionado como normal, esta sociedade passa a agir através da coerção social, que pode ser exercida de inúmeras formas.
Este processo, só possui força a partir do momento em que o indivíduo que sofre a ação passa a se identificar com os rótulos difundidos a seu respeito. Como foi muito bem exposto na tese, Anna, que já se sentia culpada pela relação que vinha tendo com seu amante, passa a se identificar com as injúrias que lhe são dirigidas, conduzindo em parte os subseqüentes tormentos pelos quais a anti-heroína passa.
Os pensamentos de Anna nos capítulos que precedem sua morte corroboram a situação em que ela se encontrava. “Admitamos que eu me casasse: olhar-me-ia Kitty com menos condescendência? Não se perguntará Sierioja [o filho de Anna] por que tenho eu dois maridos? Poder-se-ão estabelecer entre mim e Vronski relações que não sejam uma tortura para mim? Não. (...) A cisão entre nós é muito profunda: eu faço-o infeliz e ele faz-me infeliz. Nada se modificaria. (Pag 302, livro II)
Assim, lhe é permitido um único ato livre para esta situação, o suicido. Independentemente das discussões sobre o significado da liberdade de ação quando se é compelido a escolher uma única opção. (MOSCOVICI apud Andrade, Matos, Alves, Matos, Coutinho, Sacramento,2007) esta tese é bastante elucidativa do funcionamento das sociedades, que desde os tempos imemoriais até o futuro infinito permanece o mesmo, apesar das mudanças das formas e condições históricas.
Fica a dica para quem tem interesse em conhecer de forma mais aprofundada um pouco do espírito do povo russo, retratada por alguém que conhecia como ninguém seus preconceitos, estereótipos, valores e crenças, tão distantes, mas ao mesmo tempo tão próximos a nós, seja no século XIX, sejam nos dias atuais.

Gene dos ruivos


Participação especial de Raphael Costa do blog Eudeviaestar.

Sentir isso é a liberdade que tenho.
Tentam me fazer acreditar que meu "eu" interno
não pode ser meu "eu" público.
Mas de certa maneira, calado, falante, porre ou sóbrio:
sou a mesma verde ervilha.
A que estava debaixo daquele seu colchão,
a que rolou para fora do pote da vovó
por não querer ser parte do molho.
Devia assim andar nu,
não para espantar, seduzir ou expressar,
devia apenas calar e sentar.
Mas o desejo da maioria não repreendeu meus anos de carteira
traseira sedenta de opinião livre.
Um dia os pequenos sardentos tem garganta,
ela é rouca e diz mais do que deveria,
e talvez mais do que gostaria.
Mas sempre é o necessário para certos pontos de vista,
de quem curte,
de quem sacrifica pela redenção
da libertação pessoal.
Eu sou o primeiro de muitos, de muitos que virão.

Rotina


Por Adílson Silva.

Hoje eu levantei bem cedo
Tomei o meu café, e me olhei no espelho.
Fiz a mesma reflexão que qualquer um faria
Novamente vai começar um outro dia

Será que vai ter alguma mudança
Algo diferente que me dê mais confiança
Com certeza não, o que é mais previsto.
Seria um bom dia maquinado com um sorriso

O mais simples é se acostumar
Deixar o tempo passar
Porque mesmo que não queiras acreditar
Amanha tudo vai recomeçar

Quem sabe alguma hora dessas
Haja uma mudança entre essas arestas
E possivelmente eu e você
Teremos algo para poder nos engrandecer

Já esta chegando o desfeche desse dia
Baterei o meu ponto e estarei de saída
Há apenas uma coisa que me inquieta
O fato de saber que amanha tudo recomeça