terça-feira, 30 de março de 2010

Minha primeira tortura



Por Josy Llopes

Como toda criança peralta e com pouco espaço para brincar, as ruas e calçadas próximas tornam-se verdadeiros centros de idéias e brincadeiras. Para compor o cenário, uma árvore frondosa encontrava-se em frente a minha casa. Certamente você conhece os "soldadinhos" e "punha-mesas", hoje quase extintos, mas que fizeram a alegria de tantas crianças.
Éramos um grupo de três meninas. Minhas delicadas amigas não imaginavam o sofrimento a que eu submeteria aqueles pobres insetos. Enquanto elas cantavam, eu aprisionava um lindo louva-a-deus amarelo, com fios retirados de um ioiô. Caro leitor, peço-lhe piedade. Não me denuncie aos órgãos de proteção aos louva-a-deus. Fui uma criança peralta, apenas isso.
Escondi o meu tesouro em uma ponta da calçada. Ainda posso lembrar-me da cara do inseto clamando por liberdade. Resolvi impor a minha liderança. Arranquei as patas dianteiras. Aqueles olhinhos... Se pudessem falar, diriam: "Que menina má! Você pagará pelos seus pecados quando comandarmos o mundo." Depois experimentei as patas traseiras. Plinct! Plact! Foram-se duas patas. Já terminaria o serviço quando minhas amigas perguntaram o que eu estava fazendo. Não deu tempo. A mais novinha das amigas pisou no meu objeto de tortura... Tirou-lhe a vida... Eu deveria tê-lo realizado.
O meu prisioneiro evadiu com a morte! Culpei a amiga por tamanha atrocidade. Ela chorou, coitada. Eu mal sabia que a vida imporia a mim suas próprias torturas.

sábado, 13 de março de 2010

Sarajevo Revisited



Por Filipe Oliveira.

Um senhor de longos cabelos grisalhos entra na corte com um ar aparentemente relaxado e jovial, logo em seguida brinca com alguns presentes antes de tomar seu lugar no julgamento. Para algum desavisado, este poderia ser mais um caso de sonegação de impostos ou um litígio envolvendo fraude na previdência social se não estivéssemos falando de Radovan Karadzic e o local do julgamento não fosse o Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia (TCII).
O ex-presidente sérvio-bósnio é acusado de inúmeros crimes cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995) dos quais merecem ser mencionados assassinato, extermínio, perseguição e deportações ilegais de mulçumanos e croatas da Bósnia-Herzegovina. O episódio mais famoso do conflito foi o genocídio cometido contra os mulçumanos na cidade de Srebrenica na qual mais de 8.000 pessoas foram mortas e outras milhares feridas, por conta da política de limpeza étnica que o governo de Karadzic liderou em nome da pretensa criação da “Grande Sérvia” na região.
Além deste triste capítulo na história dos Bálcãs, ele também é lembrado por ter autorizado o ataque a população civil durante o cerco de 43 meses a cidade de Sarajevo. Estima-se que o número de mortos tenha chegado a 10.000 pessoas, sem falar no imenso número de feridos.
O processo, que se arrasta desde 2008 quando o ex-líder sérvio foi preso em Belgrado, após passar treze anos foragido, enquanto se passava por um especialista em medicina alternativa com o falso nome de Dragan Dabic, foi retomado nas últimas semanas. O acusado dispensou um advogado para sua representação na corte, preferindo que ele próprio fizesse sua defesa no julgamento.
Sua atuação perante o tribunal tem sido tênue, ora argumentando que a atuação da Bósnia durante o conflito foi “justa e sagrada”, baseada apenas no princípio da autodefesa, ora negando sua participação no conflito, dizendo que os massacres perpetrados nas duas cidades fora fruto de armação dos mulçumanos bósnios; na cidade de Srebrenica os mulçumanos teriam atirado contra si próprios e usado corpos da população local que estavam em valas para aumentar o número de mortos, e que em Sarajevo tudo não passou de uma estratégia para atrair a intervenção estrangeira por meio de tropas da OTAN.
O julgamento foi novamente adiado pelo juiz O-Gon Kwon para que se analise o recurso apresentado pelo réu para o adiamento do processo. Espera-se que desta vez a audiência tenha um resultado diferente do julgamento de Slobodan Milosevic, cancelado após a morte do líder sérvio em 2006.
Ainda que pequeno, o julgamento e a devida punição do alcunhado “Carniceiro dos Bálcãs” é um importante passo rumo à amenização dos conflitos que têm marcado a região desde o século XV.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Japonês papa chibé



Por Adílson Silva

Aproveitando a efeméride, na qual se comemorou 80 anos de imigração japonesa na Amazônia, aconteceu no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, o festival Matsury¹, o qual moveu mais de 15 mil pessoas em setembro do ano passado, com o objetivo de divulgar aos paraenses (que ainda não conhecem muito sobre os japoneses) os costumes e a cultura da comunidade nipônica. O evento contou com varias atrações (muitas delas internacionais) como cantores, grupos de dança, de teatro, entre outros. No entanto, para entender melhor a história da comunidade Nikkei na Amazônia, faz-se necessário também situar o momento histórico da imigração japonesa.
Basicamente o período de imigração dos japoneses no país iniciou-se no ano de 1920, período esse em que os japoneses chegam ao Brasil com esperança de melhores condições de vida, investindo primeiramente nas atividades de agricultura, principalmente na cidade de Tomé-Açu, considerada como uma das regiões mais produtivas em que os japoneses se concentram até hoje, o que os tornam responsáveis, em grande parte, pela economia do Estado. Sua principal produção era a pimenta-do-reino², além de destaque em outras áreas como mineração e na extração do setor madeireiro.
O principal fator que proporcionou o progresso traduziu-se em inovações na forma de plantio que foram estabelecidas pelos japoneses, as quais foram muito bem aceitas pelas pessoas que já habitavam a área antes deles, sem falar que essas técnicas contribuíam muito prevenção do meio ambiente, uma vez que limitavam as queimadas. As figuras históricas responsáveis pela entrada da pimenta-do-reino, a fortificação de sua produção entre outros elementos, foram: Makinossuke Ussui (que trouxe o produto para o país), Ryota Oyama Tsukata Uetsuka, (ex-deputado japonês que coordenou a imigração no Amazonas) e Hashiro Fukuhara (líder da chegada dos imigrantes no Pará)
Outra área que os japoneses se destacaram foi na fruticultura. Eles deram início a essa outra atividade por volta de 1990, sendo considerados precursores na produção de cupuaçu, açaí, mangostão e rambutã; alem de trazerem novas iguarias como noni, durian, mamão e havaí, entre outras. Apesar disso, a grande produção encontrou-se mesmo na pimenta-do-reino, que alcançou o lucro de US$78 milhões na exportação em 2007. Com a iniciativa dos japoneses em aprimorar a tecnologia agrícola, a produção sofreu grandes mudanças, incentivando os demais produtores a buscarem novas formas de aprimoramento no que tange ao processo de produção agrícola, mediante pesquisas cientificas que se iniciaram em 1970, criando assim uma solidificação no setor empresarial da agricultura.
O processo de imigração nipônica foi tão intensa que a terceira maior colônia de japoneses encontra-se no Pará, dividida entre as cidades de Tomé-Açu, Santa Izabel e Castanhal, cidades que sempre fazem eventos em certos períodos do ano para comemorar suas produções, as datas comemorativas do Japão, etc. Como exemplo tem-se o festival do sushi que acontece anualmente na cidade de Santa Izabel. Já na cidade de Tomé Açu ocorre o festival do Bom Odori, festival muito interessante em que no final da festividade, todos se reúnem em volta de uma torre para dançar como uma forma de celebração (que não tem hora para acabar) e agradecimento por um ótimo ano que passou, a dança sendo acompanhada pelo som do taiko.
Além dos festivais, a colônia japonesa apresenta musicas tradicionais como o enka, danças como o tradicional yosakoy soran (festivais de dança realizados freqüentemente no Japão); sua percussão de tambores japoneses (taiko), além de comidas típicas que normalmente são muito apreciadas também pelos paraenses.
O melhor de tudo é que se alguém tiver interesse em conhecer e mesmo em se envolver na cultura Nikkei, basta procurar a Associação Pan Amazônica, uma espécie de representante do Japão no Pará que organiza muitos eventos tradicionais no afã de aumentar os laços entre a cultura paraense e os costumes nipônicos..

1- http://madeinjapan.uol.com.br/2009/03/07/80-anos-de-imigracao-japonesa-na-amazonia/
2- http://9dadesanimes.blogspot.com/2009/09/para-celebra-80-anos-de-imigracao.html