terça-feira, 1 de junho de 2010

Próxima Estación: Esperanza !


Por Raphael Carmezim.

Quando me perguntam quem é Manu Chao, eu respondo: é um artista, um músico! Quando me perguntam que tipo de musica ele faz, eu respondo: dub...reggae...ritmos caribenhos...na certeza de quem nem eu sei ao certo o que é aquilo. De fato, Manu Chao está naquelas categorias “líquidas” (lembrando do sociólogo polaco Bauman)do artista “perdido nel siglo XX”), própria da estética do nosso século.
Basta entrar na página oficial do artista (http://www.manuchao.net/) e sentir a toada da “amalucada vida”, o “vento que vien e que se vá”, um mundo “viramundo”, que comemora as amarguras, as tristes esperanças, a “sharp politic”, a insatisfação dos povos, das culturas (“Che cosa vuoi dá-me...que cosa vuoi ancora...que cosa vuoi de piú).
Manu Chao esteve em Belém recentemente, trazendo uma mensagem que permeia toda a sua obra: “La resignación és un suicídio permanente”, talvez herança de uma juventude Manonegrista, permeada pelo punk franco-londrino, rockabilly espanhol, prédicas anárquicas, panegíricos de outras formas de coletividades e de relacionamentos com os povos e a natura. Seus shows lembram mesmo as T.A.Z’s de Hakim Bey, reunindo povos de tantas estratificações possíveis que esvaziam-se os espaços de poder, dissolvendo-se tudo na massa pastosa, anterior ao Deus de Mennochio.
De corações desérticos como a Sibéria, à honradez dos heróis futebolísticos (La vida és una tômbola Maradona, e a loteria começa dia 13!); do canto da Pachamama que se põe a chorar, às prostitutas das “calles” de coração de alquilar, das horas que batem no coração em todos os cantos do mundo, aos pequenos planetas (“L'univers est trés grand avec plein d'étoiles ! Et ces petites étoiles sont brillantes,elles sont gentilles, elles sont sympatiques si vous les aimez...”) que rutilam nos olhos de quem vê. É bom ouvir um artista que pensa a vida em uma perspectiva antropológica tão válida, qual seja, como bem se expressou a Profª. Ana Paula em palestra na UFPA: uma constante esquizofrenia.
Agora Manu Chao está flertando com o nosso carimbó, se diz grande admirador do trabalho de nosso Pinduca. Em seu show disse não saber espanhol, não saber português...sabe apenas portunhol. De fato Manu Chao sabe das misturas, mix, mezclas, mixages, mescolanzas, e ninguém como ele consegue, de tal forma, a partir de nossas diferenças, nos fazer filhos de uma mesma estirpe, condenados a “nunca llegar”, mas a mensagem está dada: “La muerte es um regreso que tendrá que esperar, poi yo voy pra frente, deste mundo demente, e a cada dia eu lucho para não decaer”. ESPERANZA LATINO AMERICA, ESPERANZA VIRAMUNDO! Vivamos pois, a feira de mentiras!: http://www.manuchao.net/manuchao/a-feira-das-mentiras/index.php?p=23

Referências:
BAUMAN, Zigmunt . Modernidade Líquida; tradução, Plínio Dentzien. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001
Palestra: Direito e Antropologia: desafios, encontros e desencontros. Ana Paula Schritzmeyer.
CHAO, Manu. Letras. Maio.2010. Disponível em http://letras.terra.com.br/manu-chao/. Acesso em 31 de maio de 2010