terça-feira, 30 de março de 2010

Minha primeira tortura



Por Josy Llopes

Como toda criança peralta e com pouco espaço para brincar, as ruas e calçadas próximas tornam-se verdadeiros centros de idéias e brincadeiras. Para compor o cenário, uma árvore frondosa encontrava-se em frente a minha casa. Certamente você conhece os "soldadinhos" e "punha-mesas", hoje quase extintos, mas que fizeram a alegria de tantas crianças.
Éramos um grupo de três meninas. Minhas delicadas amigas não imaginavam o sofrimento a que eu submeteria aqueles pobres insetos. Enquanto elas cantavam, eu aprisionava um lindo louva-a-deus amarelo, com fios retirados de um ioiô. Caro leitor, peço-lhe piedade. Não me denuncie aos órgãos de proteção aos louva-a-deus. Fui uma criança peralta, apenas isso.
Escondi o meu tesouro em uma ponta da calçada. Ainda posso lembrar-me da cara do inseto clamando por liberdade. Resolvi impor a minha liderança. Arranquei as patas dianteiras. Aqueles olhinhos... Se pudessem falar, diriam: "Que menina má! Você pagará pelos seus pecados quando comandarmos o mundo." Depois experimentei as patas traseiras. Plinct! Plact! Foram-se duas patas. Já terminaria o serviço quando minhas amigas perguntaram o que eu estava fazendo. Não deu tempo. A mais novinha das amigas pisou no meu objeto de tortura... Tirou-lhe a vida... Eu deveria tê-lo realizado.
O meu prisioneiro evadiu com a morte! Culpei a amiga por tamanha atrocidade. Ela chorou, coitada. Eu mal sabia que a vida imporia a mim suas próprias torturas.

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