sábado, 13 de março de 2010

Sarajevo Revisited



Por Filipe Oliveira.

Um senhor de longos cabelos grisalhos entra na corte com um ar aparentemente relaxado e jovial, logo em seguida brinca com alguns presentes antes de tomar seu lugar no julgamento. Para algum desavisado, este poderia ser mais um caso de sonegação de impostos ou um litígio envolvendo fraude na previdência social se não estivéssemos falando de Radovan Karadzic e o local do julgamento não fosse o Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia (TCII).
O ex-presidente sérvio-bósnio é acusado de inúmeros crimes cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995) dos quais merecem ser mencionados assassinato, extermínio, perseguição e deportações ilegais de mulçumanos e croatas da Bósnia-Herzegovina. O episódio mais famoso do conflito foi o genocídio cometido contra os mulçumanos na cidade de Srebrenica na qual mais de 8.000 pessoas foram mortas e outras milhares feridas, por conta da política de limpeza étnica que o governo de Karadzic liderou em nome da pretensa criação da “Grande Sérvia” na região.
Além deste triste capítulo na história dos Bálcãs, ele também é lembrado por ter autorizado o ataque a população civil durante o cerco de 43 meses a cidade de Sarajevo. Estima-se que o número de mortos tenha chegado a 10.000 pessoas, sem falar no imenso número de feridos.
O processo, que se arrasta desde 2008 quando o ex-líder sérvio foi preso em Belgrado, após passar treze anos foragido, enquanto se passava por um especialista em medicina alternativa com o falso nome de Dragan Dabic, foi retomado nas últimas semanas. O acusado dispensou um advogado para sua representação na corte, preferindo que ele próprio fizesse sua defesa no julgamento.
Sua atuação perante o tribunal tem sido tênue, ora argumentando que a atuação da Bósnia durante o conflito foi “justa e sagrada”, baseada apenas no princípio da autodefesa, ora negando sua participação no conflito, dizendo que os massacres perpetrados nas duas cidades fora fruto de armação dos mulçumanos bósnios; na cidade de Srebrenica os mulçumanos teriam atirado contra si próprios e usado corpos da população local que estavam em valas para aumentar o número de mortos, e que em Sarajevo tudo não passou de uma estratégia para atrair a intervenção estrangeira por meio de tropas da OTAN.
O julgamento foi novamente adiado pelo juiz O-Gon Kwon para que se analise o recurso apresentado pelo réu para o adiamento do processo. Espera-se que desta vez a audiência tenha um resultado diferente do julgamento de Slobodan Milosevic, cancelado após a morte do líder sérvio em 2006.
Ainda que pequeno, o julgamento e a devida punição do alcunhado “Carniceiro dos Bálcãs” é um importante passo rumo à amenização dos conflitos que têm marcado a região desde o século XV.

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