sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Belém, 394 anos


Por Josy Llopes

Completo 394 anos de fundação e ninguém perguntou-me o que acho de tudo isso. Diga-se de passagem, estou velha. Sim! Ossos e cabelos brancos e velhos. O que sou? Belém do Ver-o-peso, Belém das mangueiras, Belém das chuvas... Sou a Belém Geni, meu Deus! Não têm coragem de perguntar-me o que penso. Francamente!
Comecemos com a Belle Époque de minha vida. Eu fui uma Belém menina... Menina bonita e superior a algumas cidades brasileiras. Ratos a escutar-me a rouca voz... Dêem-me crédito! Os homens do governo maquilaram-me toda. De mim fizeram mulher... E fui tomando formas. Mas os homens não contentaram-se com aquele sorriso meigo. Despiram-me as vestes de seda e mancharam (ainda mancham!) minha honra. E que velha triste tornei-me! E estes gigantes filhos de concreto a expulsar minhas antigas construções!? Tornei-me uma Belém moderna.
Matinta agourou-me com seu assobio e Nazaré alertou-me. Fui sorrindo... Sorrindo... Até perder os dentes. Hoje sou Belém o que? Belém de quem? Chamam-me ainda Belém morena quando já tenho os céus de cor acinzentada. Homens hipócritas! Belém está em todos vocês! Em todos os quais embalei. Em todos que em meus seios beberam o leite do acolhimento... Não deixem-me morrer! Quero ser ainda a Belém de Euclides, com o mesmo amparo que aqui outrora encontrara. Quero contar-lhes sobre minhas memórias. Quero mostrar-lhes que por mim lutaram muitos e que por mim deve-se lutar.

3 comentários:

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  3. Bem que dizem que toda unanimidade é burra..e por sinal respeito é bom e todo mundo gosta..

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